Mentaland #06 | Entender o Napster é fundamental para entender NFTs 🏴☠️
A conveniência proposta pelo Napster mudou como consumimos música, agora é a vez de mudar o conceito atual de propriedade digital
Pouco mais de um ano depois da venda de 'Everydays: the First 5000 Days', o assunto NFT circulou nas mais variadas rodas de conversa. Também, não à toa, 69 milhões de dólares por um jpeg é algo curioso para alguns e talvez… preocupante para outros.
Essa venda criou uma expectativa no mercado do que seria possível dali em diante, mas a não ser que você seja um artista que já tenha alguma visibilidade, dificilmente vai conseguir alcançar tal valor. Isso não significa que NFTs são uma espécie de 'esquema pirâmide' em que só quem está no topo se dá bem.
É preciso olhar para o que está além de como NFTs funcionam hoje. É difícil, assim como era difícil imaginar o que estava além do que o Napster foi um dia. Mas a real é que quem acha que NFT é só sobre scam, provavelmente achava que o Napster era só sobre pirataria.
Mas veja bem, o Napster trouxe em 1999 uma atualização ao conceito de comodidade e conveniência em relação à música que não acontecia desde que a Sony criou o Walkman em 1979. A ideia de ter qualquer faixa à qualquer momento, mudou a maneira como ouvimos e consumimos música desde então.
Já NFTs são sobre propriedade digital. Jogo de celular é um ótimo exemplo do que pode ser considerado propriedade digital. No Mario Kart Tour, o jogador tem a possibilidade de comprar packs com karts exclusivos. Na verdade, o jogagor só está pagando o direito de uso e não a propriedade daquele bem digital. A compra da propriedade significaria poder revender ou até repassar para outra pessoa - bem como um bem físico. O NFT é uma tecnologia que permite a implementação disso. Ou seja, você tem a propriedade daquele bem digital e pode revendê-lo.
Assim como o Tyler, The Creator, talvez você não queira ter propriedades digitais - talvez você não quisesse baixar música ilegalmente - mas a possibilidade de autenticar e rastrear a propriedade de algo digitalmente já está aqui. E a indústria - que ficou levemente mais calejada depois do Napster - está mais esperta e aberta para a adoção dessa tecnologia. Além de gigantes como a Nike, Instagram, Spotify, profissionais como o ex-CEO da Disney, Bob Iger embarcou no board da startup Genies - falamos deles aqui. Inclusive, muito se falou sobre NFT na última edição do SXSW.
Mas se a adoção da tecnologia vai ser de um jeito ~bacana~ aí são outros quinhentos…
O maior desafio é ver a possibilidade de algo interessante e que garante mais autonomia ao indivíduo, se tornar uma versão piorada do que temos hoje e algo que só visa o lucro. E nessa, até o criador do Ethereum concorda com a gente:
"Se não exercitarmos a nossa voz, as únicas coisas a serem construídas [nesse ambiente] será as que são imediatamente lucrativas e, normalmente, essas são de longe as melhores para o mundo"
Ou seja, enquanto houver NFT de jpg de macaco, vai precisar ter gente trabalhando nas bordas para se certificar que a coisa não vire uma grande máquina de caça-níquel digital. 🤷🏻♀️
Bônus pack de links:
Enquanto isso, no mundo real: guerra, covid, crise econômica e climática. Tem como usar a tecnologia para algo bom? Tem.
Aqui você encontra uma lista de projetos (inclusive DAOs) que têm como objetivo levantar fundos para a guerra na Ucrânia.
Já neste artigo, é possível ter uma visão mais clara do que está sendo desenvolvido (e quem está desenvolvendo) soluções com menor impacto ambiental no universo Web3.
A newsletter da MentaLand é resultado das divagações, referências e muitos áudios intermináveis trocados entre Bia Pattoli e Lalai Persson acerca do universo da Web3 - leia-se NFTs, Metaverso, DAOs, etc.
Sobre propriedade digital e adquirir um item de um jogo, como exemplificado no artigo, e poder assim revender ou repassar para outra pessoa, a possibilidade é muito interessante. O que não é muito claro para mim é porque NFT deve ser a tecnologia que possibilita isso.
Se a plataforma do jogo fornecer um marketplace, no qual é possível comprar, vender para outros (ou de volta, perdendo uma %), ou dar de presente, porque NFT é necessário ou a melhor opção?
Parece-me que neste caso de uso específico, NFTs não são enablers de nada que já não seja possível com tecnologias mais simples e maduras. Em última análise, o NFT apenas apontaria para um identificador digital em um servidor central (do jogo). E se esse servidor central não estiver online, o item é inútil e não tem valor.
Curioso para ouvir sua perspectiva, Bia. Obrigado pelo artigo.