Menta Land News #03 | O futuro é descentralizado 🔮
O que é DAO, a propriedade compartilhada de arte e a troca da confiança nas instituições pelo automatizado.
Para essa edição da Menta News vamos falar sobre DAOs (decentralized autonomous organizations) ou em bom português: organizações autônomas descentralizadas. Elas são figurinha carimbada na web 3 e as chances é que se você ainda não faz parte de uma, provavelmente vai querer ou de fato fazer parte nos próximos anos.
As DAOs oferecem a oportunidade de organizar, de maneira descentralizada, um grupo de pessoas que têm um objetivo em comum a executar seu objetivo. Uma espécie de primo distante dos conceitos de crowdfunding e cooperativa, mas que pode ser aplicado para uma infinidade de coisas.
Propriedade compartilhada
Em março deste ano a artista digital pplpleasr vendeu o NFT de um vídeo por 310 ETH (na época o equivalente a 525 mil dólares) e o valor foi todo doado para caridade. O vídeo era um promo para a rede de cripto Uniswap. O pulo do gato da história é que quem comprou o NFT foi uma DAO. A PleasrDAO surgiu justamente por causa da venda desse NFT, o fundador da PoolTogether, uma empresa de DeFi (finanças descentralizadas), lançou no Twitter a ideia de montar uma DAO para poder dar um lance no NFT. Ele não tinha o valor total e imaginou que se juntasse um grupo de pessoas, eles poderiam comprar juntos. A PleasrDAO distribuiu a propriedade da DAO na forma de tokens para as 23 carteiras iniciais que queriam participar. Cada participante que tinha um ou mais token pôde votar na compra e assim arremataram a obra.
E eles não pararam por ali, a PleasrDAO também arrematou por 5,5 milhões de dólares o NFT do Edward Snowden, o NFT da imagem original do meme Doge por 4 milhões de dólares, entre outros. Atualmente o coletivo conta com mais de 50 participantes que votam em quais obras a DAO deve ou não comprar e o que fazer com elas. De acordo com a própria pplpleasr:
[A PleasrDAO] "significa comunidade, liberdade e descentralização. É um coletivo construído pela comunidade, para a comunidade. Embora seus estágios iniciais tenham colecionado obras icônicas, esperamos democratizar a propriedade do DAO e das peças nele contidas".
O futuro é descentralizado
Uma DAO é 'descentralizada' no sentido de que roda na blockchain e dá o poder de decisão aos participantes que possuem tokens da DAO ao invés de executivos ou membros de um conselho, é 'autônoma' porque usa contratos inteligentes que são como aplicativos que rodam publicamente na blockchain e só realizam uma ação se determinadas condições são atingidas (como porcentagem de votos por exemplo) sem precisar de intervenção humana. As possibilidades são infinitas já que os participantes de uma DAO nem precisam se conhecer pessoalmente para fazer ela funcionar.
A própria pplpleasr aposta que o futuro da coleção de NFTs está na mão das DAOs. E a ideia da relação de DAO com arte não é exclusividade da PleasrDAO, para citar algumas: a TrojanDAO é focada em financiar projetos artísticos e existe desde 2019, já a JennyDAO mira no metaverso, a SaintFameDAO é de moda digital, e até a banda Maroon 5 lançou uma DAO junto a uma coleção de NFTs. A DAO da banda oferecia aos fãs que comprassem o token a possibilidade de votar no financiamento de iniciativas de impacto sócio-ambiental. O valor do fundo da DAO veio da venda da coleção inteira de NFTs.
Outro exemplo fascinante do uso de DAO é a MetaFactory. A marca produz e vende artigos online que existem fisicamente e digitalmente. Além disso, quem compra o token da marca, o $ROBOT, tem poder de voto na curadoria dos designers que entrarão para o marketplace, na estratégia comercial da marca, e entre outras ações de governança, até no uso do fundo monetário da DAO. Além de tudo, os designers que forem escolhidos para entrarem no e-commerce também ganham um token e com isso passam a fazer parte da DAO.
É uma evolução no conceito de cooperativa já que o usuário e produtor de determinada marca tem poder de voto no andamento da organização e (dependendo do modelo da DAO) até participação nos lucros. E como o manifesto da MetaFactory diz:
Estamos possibilitando uma mudança de paradigma em como as marcas, comunidades e movimentos culturais nascem e se espalham. É uma revolução no engajamento entre experiências sociais e propriedade de marca, acessível a qualquer pessoa para participar e lucrar.
A primeira de todas: The DAO
Em 2016 um grupo de investidores criou o que seria a primeira DAO (simbolizada por Đ) que foi criada com o objetivo de ser uma espécie de fundo de investimento para ser gerenciada pelos próprios investidores de forma transparente e descentralizada. A ideia era apresentar um novo modelo de negócios tanto para organizações com e sem fins lucrativos. A DAO foi financiada através da venda de um token e quem comprasse teria poder de voto, bem como retorno financeiro na DAO. Foi uma das maiores campanhas de crowdfunding da história e em determinado momento cerca de 14% dos tokens de Ethereum estavam investidos na DAO. Até que alguns usuários se aproveitaram de falhas no código e, basicamente deu ruim, cerca de um terço de todo o fundo foi repassado para uma conta subsidiária. Foi o que gerou a bifurcação no Ethereum, o anterior ficou como Ethereum Classic. Foi meio que o fim da The DAO.
Por mais que a Đ tenha flopado, o conceito de automatização e descentralização definitivamente vingou e de 2016 para cá não só a tecnologia aprimorou como o número de DAOs multiplicou.
Mas por que será que as pessoas se interessam por organizações descentralizadas? Talvez exista uma relação com a falta de confiança nas instituições tradicionais. 🤔
E é aí que está o pulo do gato. Fazer um sistema coletivo desse funcionar sem a parte automatizada é preciso muita confiança e organização das partes envolvidas - pensa no perrengue que é chegar num acordo em reunião de condomínio. A DAO elimina essa parte da confiança entre as pessoas já que o sistema é automatizado e o código é público. A confiança em questão não está entre os participantes, mas entre cada um deles e o código.
O senso de confiança do cidadão comum perante as instituições sociais foi ladeira abaixo nos últimos anos. E não sou eu que estou falando isso, um relatório da ONU de junho deste ano sobre confiança nas instituições sociais, conta que só nos EUA, a percepção de confiança no governo norte-americano foi de 73% em 1958 para 24% em 2021. Claro que muita coisa aconteceu durante esse período de tempo, inclusive uma pandemia que só escancarou mais ainda esse sentimento que já existia. Só para ter uma ideia, o mesmo relatório fala sobre como quanto maior o índice de confiança dos cidadãos em seu governo, menor foram as taxas de mortalidade por COVID-19. Talvez DAOs venham a calhar. O próprio site do Ethereum cita alguns outros possíveis usos da tecnologia que já é bem utilizada em DeFi:
Caridade, ONGs: a DAO pode aceitar doações do mundo todo e quem faz parte da DAO pode votar em como as doações serão utilizadas;
Rede de freelancers: um grupo de freelancers colocam fundos em uma DAO para alugar espaço de trabalho ou até pagar assinatura de software;
Fundo de investimento: um fundo de investimento de risco que reúne capital para investir em empresas ou projetos. Os participantes votam em como o dinheiro é investido e uma vez que houver o retorno o valor é dividido entre os investidores.
Tem como dar ruim? A primeira de todas deu e serviu como ótima lição de casa para os sistemas mais seguros que existem hoje. Além de tudo, abriu caminho para que o sistema legal venha a reconhecer DAOs como um tipo de organização - o que já está acontecendo. No começo de julho o estado de Wyoming nos EUA aprovou uma lei que reconhece o estado legal de DAOs o que coloca as organizações no mesmo patamar do registro de Limity Liability Company - similar ao LTDA brasileiro.
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