Renascentismo digital: a moda na web 3 🤖
Cyber Fashion, moda digital como solução sustentável e NFTs de grife
Estamos de volta! Já faz um tempo que quero escrever sobre o que está acontecendo no mundo da moda na web 3 já que, honestamente, tem muita coisa interessante rolando. Assim como NFTs, a moda virtual oferece uma quebra de paradigmas e nos faz rever os conceitos de posse e do que é real. A moda digital está vindo com tudo, e como o fundador da marca de sneakers virtuais RTFKT, Benoit Pagotto, disse em um episódio do podcast da Business of Fashion, “mesmo com todos os problemas relacionados à tecnologia, o futuro do impacto ambiental de NFTs é mais simples de ser resolvido do que toda a cadeia de produção da moda como temos hoje”. Isso não significa que uma indústria vá substituir a outra por completo, mas talvez, como propõe a marca digital, The Fabricant, seja um início para revermos o quanto realmente precisa ser produzido.
Cyber fashion já está entre nós 👗
Na edição sobre metaverso da nossa news eu já tinha dado uma ideia de que existe um mercado de moda paralelo de bens virtuais. A coisa toda pode parecer completamente absurda para algumas pessoas, afinal qual o objetivo de comprar uma peça de roupa ou acessório que "não existe no mundo real"? Essa é a pergunta que permeia não só artigos de moda digital, mas todo o universo dos NFTs também. Se você, leitor, tem mais de 35 anos, talvez você lembre que em um determinado momento nos últimos 20 anos, a ideia de comprar qualquer coisa pela internet era bem estranha. Sem falar na ideia de não possuir mais nenhuma música, fosse em formato físico ou em mp3 no seu HD. A real é que a maneira como a gente compra qualquer coisa mudou e segue mudando, bem como o conceito de 'posse’. E com o advento da realidade expandida, faz cada vez mais sentido a criatividade voar solta.
Um dos maiores problemas atualmente com o mercado da moda tradicional é o impacto social e ambiental. Seja na quantidade de itens produzida a cada estação, nos valores pagos na mão de obra, até na quantidade de gente viajando pelo mundo para atender as semanas de moda. O impacto negativo sócio-ambiental da indústria da moda, mesmo que difícil de ser calculado, é inegável. Mas é justamente esse fato que impulsiona algumas das empresas mais interessantes que estão à frente do movimento virtual atualmente.
Como por exemplo, a incubadora focada em moda digital, Institute of Digital Fashion. Para a temporada de outono inverno 2021 da London Fashion Week, eles desenvolveram a primeira experiência imersiva de varejo dentro do Instagram. O projeto, feito em parceria com a boutique MACHINE-A, era uma espécie de loja virtual em que os visitantes podiam explorar e interagir com algumas das criações apresentadas nas passarelas daquela edição da LFW, tudo por realidade aumentada.
Moda digital não é sobre tentar replicar a sensação do mundo real da moda. É sobre explorar uma quantidade ampla de de possibilidades criativas que são únicas; encorajar novas maneiras de engajar com a indústria e como podemos criar uma comunidade que seja mais inclusiva. - Stavros Karelis, fundador da MACHINE-A.
Seria esse o início de uma nova era da moda?
A maison de moda digital The Fabricant acredita que estamos vivendo uma espécie de ‘renascentismo’ da moda. A premissa é a de que mesmo com todo o avanço em iniciativas sustentáveis, a indústria da moda ainda está longe de reverter o impacto que ela gera. A marca faz questão de frisar o contraste gritante entre as duas propostas, tanto que eles têm uma área dedicada à sustentabilidade no site que traz números, como por exemplo a comparação entre a produção de uma camiseta digital versus uma tradicional. Enquanto a digital emite 0.26kg de carbono para ser produzida, a tradicional produz 7.8kg.
Ao mesmo tempo, faz parte do ser humano utilizar o vestuário como uma forma de se expressar. É justamente aí que mora a maior oportunidade para o mercado da moda virtual. Tendo em vista a infinidade de possibilidades criativas que a moda digital oferece, dá para ousar dizer que usar peças virtuais talvez seja até mais divertido.
Mas e a moda tradicional?
Claro que diversas marcas já estão surfando essa onda. Talvez o case mais famoso tenha sido o da Gucci com o game Roblox. Em maio desse ano, a maison italiana criou um jardim virtual no metaverso. Os visitantes podiam explorar o local e também adquirir produtos virtuais da marca. A versão digital da bolsa Dionysus foi vendida por cerca de 4.115 dólares, sendo que a versão ‘ao vivo e à cores’ custa 3.400 dólares. Vale lembrar que essa não é a primeira investida da Gucci, um pouco antes eles lançaram uma linha de tênis em realidade aumentada.
Já a Dolce & Gabbana anunciou que irá lançar uma coleção de NFTs dia 28 de agosto com a nova plataforma de artigos digitais de luxo, UNXD, sendo que a premissa é que o projeto seja uma espécie de ponte do trabalho criativo da dupla Domenico Dolce e Stefano Gabbana entre o mundo físico e o mundo metafísico.
Enquanto isso, a colaboração da Burberry com o game Blankos Block Party, que já mencionamos, não só já está no ar como já tem alguns artigos esgotados. E por sinal, eram os artigos mais caros: o toy art digital e um ‘jet pack'. As 750 unidades virtuais do boneco, vendidas à 299 dólares esgotaram, e os 1.500 jet packs a 99 dólares também. Só sobraram o tˆenis (49 dólares) e as arm bands (24,99 dólares) para os bonecos do jogo.
Quem também está se aventurando nesse mundo é a Louis Vuitton. A marca lançou um game para celular chamado Louis The Game, em que em uma espécie de caça ao tesouro, o jogador pode encontrar colecionar acessórios e encontrar um dos 30 NFTs disponíveis.
Muito mais que grifes já conhecidas
Ao mesmo tempo que é tudo muito novo, já existem algumas marcas que se destacam nesse cenário. É o caso da AUROBOROS, a marca tem ganhado cada vez mais espaço por conta dos seus modelos ousados. Além de ter participado da London Fashion Week, também fez parte de uma exposição no metaverso CryptoVoxels, e teve o vestido Venustrap (o segundo da esquerda para a direita na imagem acima) em realidade aumentada para o Snapchat.
O mundo da moda digital só cresce, tanto que não à toa, já existem e-commerces focados nesse nicho. Como o Dressx, o The Dematerialised, o Replicant Fashion e o Artisant. Todos têm em comum a missão de desafiar os modelos de produção, consumo e propriedade da indústria da moda. O Replicant vai além disponibilizando um relatório do desempenho da empresa, fundada em maio deste ano. Outro ponto interessante, é ver a quantidade de designers listados em cada uma das boutiques.
Talvez você ainda não esteja preparado para comprar um desses artigos virtuais, mas isso não significa que você não possa brincar de criar o seu próprio artigo. É o que propõe o CryptoKickers. Nele o usuário cria seu próprio modelo de tênis, minta e vende o NFT na própria plataforma.
O conceito de comprar artigos que não serão utilizados na vida real parece o ápice do capitalismo. Mas e se na verdade for uma maneira de driblar não necessariamente o consumo desenfreado, mas a superprodução de bens de consumo? Será que precisamos da versão material de tudo que compramos? Essas são algumas das perguntas retóricas que nos fazem pensar no que está por vir. E pasme, essa história já está esbarrando na indústria de cosméticos! De qualquer maneira, isso tudo está definitivamente servindo como ótimo exercício para revermos nossos hábitos de consumo. 😉
A Menta Land, fundada pela Lalai Persson e a Bia Pattoli, é um estúdio criativo focado em projetos no universo digital da web 3.0, seja na blockchain/NFTs, no metaverso e/ou games ou na internet que está por vir. Tem sugestões, críticas, elogios ou projetos? Escreva pra nós.