Mentaland #9: NFTs para o bem
NBA Top Shot, Nadya Tolokonnikova, SocialCryptoDAO, ARTXV e iniciativas de NFTs para empoderar o público feminino
Trilha sonora para acompanhar sua leitura: “Daydream”, de Green King
Apesar dos NFTs terem se tornado populares, eles ainda são muito mal compreendidos em relação às suas possibilidades de uso.
A utilidade dos NFTs é palpável em algumas áreas, como nas artes, pois resolve o problema de procedência e garante o percentual para o artista nas revendas de obras. Na música, o NFT viabiliza de maneira simples a venda de percentual de royalties e pode garantir ao artista ganhar nas vendas no mercado secundário.
Entendendo melhor o uso dos NFTs
Um bom exemplo sobre o uso dos NFTs que não é novidade, mas eu gosto, é o NBA Top Shot, figurinhas colecionáveis com os melhores momentos dos jogos da NBA. Antes da chegada dos NFTs, a NBA só ganhava em cima da primeira venda das figurinhas e tinha menos controle sobre falsificação. Ao levar os colecionáveis para a blockchain, a NBA mantém os ganhos nas revendas, tem o rastreio de quem possui cada figurinha e garante que são oficiais.
Nem sempre você está comprando um NFT e ele é meramente um JPG. O famoso PFP (esses novos avatares usados por entusiastas da blockchain) Bored Ape Yacht Club (BAYC) possibilita seus detentores licenciarem os avatares para uso comercial. Foi criada a agência Bored Jobs para ajudar neste licenciamento, já que nem sempre é fácil acessar seus donos. Um exemplo é o Bored Ape #7285 que foi licenciado para estrelar uma campanha de lançamento da camiseta que o próprio avatar usa e que foi produzida pela Old Navy, marca que tem usado PFPs em suas campanhas, como Mutant Ape, CryptoPunks e CloneX, avatar criado pela marca de roupas digitais RTFKT.
Outros exemplos: Eminem e Snoop Dogg usaram os seus NFTs do BAYC em “From the D 2 The LBC”. E, a Universal Music criou uma banda a partir de três Bored Ape, o Kingship, para shows no Metaverso e contratou um Mutant Ape para ser o empresário do grupo. Ou seja, num momento em que o mercado está voltando para os influencers virtuais, imagina que você pode licenciar o seu avatar (NFT) para uso publicitário, como citei lá em cima;
O ativismo do Pussy Riot através do uso de NFTs
Nadya Tolokonnikova, fundadora do Pussy Riot, tem usado a blockchain para angariar fundos para as causas em que atua. Entre todas as suas ações feitas via Web3, Nadya já angariou US$ 12 milhões.
Um dos seus últimos projetos foi feito em parceria com a cantora Salem Illese, produtora da música “crypto boys”, que se tornou viral no TikTok. Nadya criou a arte do single e ajudou na campanha de lançamento da série de 864 NFTs vendidos a 0.1ETH cada. A campanha arrecadou +-US$ 140 mil, que foram doados para The Center for Reproductive Rights.
Logo no início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, Nadya se mobilizou com outros entusiastas de cripto para criar a UkraineDAO, que em pouco tempo arrecadou mais de US$ 6 milhões em doações para a Ucrânia. Nadya mantém a UnicornDAO, comunidade focada em comprar e colecionar NFTs criados por mulheres e pela comunidade LGBGQ+. Já foram compradas mais de mil NFTs e arrecadados US$ 4,5 milhões em fundos, que é utilizado para investir na DAO e comprar novos NFTs.
Levando cestas básicas para as favelas a partir da venda de NFTs
Gean Guilherme, morador do morro de Santo Amaro, favela na zona sul do Rio de Janeiro, começou a criar NFTs durante a pandemia e usou metade dos valores das vendas para comprar cestas básicas que foram doadas para moradores do bairro. Percebendo o potencial da Web3, Gean criou a SocialCryptoDAO reunindo diversos artistas, que doam parte das vendas para investirem em cestas básicas e em educação sobre a Web3 para moradores das periferias brasileiras através da comunidade no Discord e um doc com o beabá sobre blockchain.
ARTXV: Comunidade focada em artistas neurodivergentes
ARTXV é o primeiro coletivo de NFT focado em artistas neurodivergentes criado pelas irmãs Ava e Tara, que é autista e artista. O projeto visa dar visibilidade para artistas com deficiências atuando como agência e comunidade.
Além de trazer luz às incríveis obras de artistas neurodivergentes, a ARTXV aumenta a consciência sobre o assunto e ajuda estes artistas a alcançarem independência econômica. ARTXV tem parceria com o Google Arts & Culture, a primeira de seu tipo para um coletivo NFT.
Projetos de NFTs focados no público feminino
Num universo majoritariamente dominado por homens, a Web3 começa a ser ocupada por projetos de NFTs com a missão de educar e empoderar mulheres neste novo mercado. A maioria deles arrecada recursos a partir da venda de coleção de NFTs de PFPs, geralmente lançada com 10 mil itens gerados randomicamente. Esses projetos costumam oferecem cursos, mentorias e também a compra de NFTs criados por outras mulheres:
Boss Beauties, focado na Geração Z;
Power of Women fundado pela ilustradora Leah Ibrahim Sams, que já arrecadou cerca de 400ETH (cerca de R$ 3,5 milhões) e hoje dá espaço semanal para novas artistas venderem seus NFTs;
World of Women (WoW), um dos projetos pioneiros liderados por mulheres que já arrecadou em menos de um ano cerca de 71.000 ETH (+- R$ 615 milhões) em vendas de NFTs. Um dos trunfos do WoW foi liberar o direito de propriedade intelectual de seus NFTs aos compradores.
The Black Woman, que tem um programa educativo e presença em metaverso;
Women Rise, criado pela artista palestina Malita Abidi.
Rapidinhas
Quem inventou o NFT? Tem alguém afirmando que foi David Bowie, em 1997, quando lançou “Bowie Bond”, quando decidiu comprar os direitos de suas músicas antigas. O investidor comprava os “bonds” para que o Bowie usasse o dinheiro para comprar os direitos de seu catálogo anterior e toda vez que as músicas desse catálogo são vendidas ou tocadsa na rádio/streaming, o artista é pago e os investidores recebem uma parte do pagamento. Bowie levantou na época US$ 55 milhões (mas nem tudo acabou tão bem, porém foi inovador como tudo que Bowie fez). Esse assunto veio à tona por conta do anúncio feito no perfil oficial de David Bowie, no Twitter, de lançamentos de NFTs relacionados à obra do artista, mas foi deletado devido a backlash. MAS, já voltaram atrás e anunciaram no Instagram que toda a verba arrecadada será doada para uma instituição de caridade. Ops!
Este report traz um overview sobre os NFTs no Q2 2022 (abril a junho), mostrando o impacto que o bear market teve neste mercado.
A Marina Abramovic também abraçou a Web3 lançando o projeto The Hero 25FPS NFT, em que levou sua performance em vídeo “The Hero” para a blockchain, para ser vendida em 6.500 frames em jpg ou gif. 25% do valor arrecadado com as vendas será destinado para impulsionar um novo projeto escolhido através de um open call (está na home do site). Aliás, recomendo ler o texto sobre o projeto, que é bem bonito.
O Adriano Cintra e a Tiê estão lançando uma nova banda e anunciaram que o primeiro álbum será lançado tokenizado, ou seja, em NFTs.
Tem crescido a discussão sobre NFTs licenciados sob CC0 (sem direitos reservados), como o licenciamento comercial de um PFP. Para entender melhor essa discussão, recomendo a leitura deste texto, que disseca o tema.
Uma lista com 100 startups focadas em Web3 nas mais diversas áreas. Eu ando bem curiosa em como vai funcionar a curadoria descentralizada do CurateDAO, mas que ainda não tirou meu pavor diante do design do site.
Escassez é uma das palavras-chaves quando falamos sobre NFTs, mas será ela viável para a indústria da música?
Aqui na minha lista de leitura está pendente este artigo sobre NFTs na indústria da música, dos colecionáveis às comunidades, que mostra um pouco os números do mercado atual, a queda livre das vendas, os álbuns que estão sendo lançados nativamente na Web3 e as DAOs.
E, para fechar, convido vocês para uma reflexão sobre o que é, nos dias atuais, um artista fake. Recentemente o rapper virtual FN Meka, criado a partir de inteligência artificial, foi demitido de sua gravadora Capitol. O motivo se deu após o artista ser duramente criticado e cancelado nas redes sociais por perpetuar estereótipos racistas em suas letras. Descobriu-se, posteriormente, que a única pessoa negra no projeto é o dono da voz de Meka (mas que ninguém sabe de fato se é, porque até então considerava-se que a voz também era gerada por IA).
A Menta Land, fundada pela Lalai Persson e a Bia Pattoli, é um estúdio criativo focado em projetos no universo digital da web 3.0, seja na blockchain, no metaverso e/ou games ou na internet que está por vir. Tem sugestões, críticas, elogios ou projetos? Escreva pra nós.