Mentaland #7: O metaverso chegou, mas ainda está carregando ⌛️
De que adianta poder comprar um item de marca no metaverso se ele é mal renderizado?
Aconteceu a Metaverse Fashion Week na Decentraland no final de semana do dia 24 de março. O evento contou com nomes conceituais como Imitation of Christ à marcas mainstream como Puma. No primeiro dia do evento, não consegui acessar a Decentraland, meu login não passava da Metamask. No TikTok, entusiastas comentavam sobre o barulho proveniente de seus hardwares durante a experiência. Já no Reddit, alguns alertavam sobre a péssima nevegação pelo Chrome. No segundo dia, consegui acessar e lembrei porque não sou adepta regular da Decentraland: a experiência como um todo ainda é muito ruim. Acabei recorrendo ao YouTube para ver o que foi documentado e tive flashbacks do gif do bebê dos anos 90 ao ver a participação da Grimes para a Auroboros. No final acabei devorando os reviews do WWD e do The Drum. E confesso que ler o review do Tim Bradshaw depois de já ter escrito essa newsletter, me deu um certo alívio.
A conclusão, como profissional que já frequentou muita Fashion Week no mundo real, é que ainda falta muito e em muitos aspectos para termos uma experiência como consumidores e como usuários (ou jogadores?) que seja realmente interessante envolvendo moda virtual. Não faz sentido tentar reproduzir uma experiência real num mundo pixelado. Para se ter uma ideia, as salas de desfile tinham lugares para sentar, mas os avatares da Decentraland não são programados para fazer tal movimento.
Qualquer experiência virtual, para ser relevante, precisa se aproveitar do que é possível ser explorado naquele universo ao invés de tentar replicar o que já podemos fazer do outro lado da tela. Mesmo porque, a comparação com o real vai ser sempre imbatível - ainda mais quando um é pixelado e demora para carregar. Por outro lado, se não fosse possível criar algo realmente interativo, as pessoas não passariam horas jogando videogame. E é justamente isso que faltou na semana de moda do metaverso: o componente que te faz querer ficar encarando e interagindo com a tela não importa por quanto tempo.
Porém, para quem é entusiasta da plataforma (e tem um PC de gamer), o evento foi bacana. Mas creio que as 55 marcas participantes não estavam contando só com quem já é habitué. Na primeira semana de abril, o volume de vendas de itens usáveis, ou wearables, não é exatamente incrível.
Ao mesmo tempo em que iniciativas criativas e disruptivas na indústria da moda são interessantes, me pergunto se as próprias marcas têm algum plano a longo prazo, ou se é só vender versões mal-renderizadas de produtos reais enquanto posam de inclusivas. Por outro lado, isso não significa que qualquer tentativa em metaverso seja uma furada. A Zara lançou uma coleção-capsula que existe nas lojas físicas, no e-commerce e no Zepeto. Aliás, o Zepeto talvez seja uma das melhores opções atualmente, é mobile-friendly e tem melhores gráficos. Porém, não é descentralizado.
Bônus para ficar pensando:
Com tanto produto virtual focado no mercado feminino (até a Estée Lauder teve NFT de cosmético na Decentraland), há de se perguntar: mas tem mulher envolvida no desenvolvimento disso tudo? Sim e não. Existe uma onda de famosas (Paris Hilton, Grimes, Mila Kunis, etc) envolvidas nesse universo e que podem ressucitar o movimento #girlboss da última década - o que não é exatamente animador. O outro lado dessa mesma moeda é o desequilíbrio que que existe entre mulheres que possuem cripto, que desenvolvem nesse ecossistema e que conseguem adentrar o mercado.
A newsletter da Mentaland é resultado das divagações, referências e muitos áudios intermináveis trocados entre Bia Pattoli e Lalai Persson acerca do universo da Web3 - leia-se NFTs, Metaverso, DAOs, etc.
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